Como disse o estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch, a moda é o cérebro por fora. Representamos o nosso estilo e nossa maneira de pensar quando escolhemos o que vestimos todos os dias. Porém, essa liberdade não é garantida para a galera que estuda nas escolas em que o uniforme é obrigatório.
A maioria das instituições de Ensino Médio em Santa Maria não exige o uso do uniforme após a 8ª série. Quem explica o motivo disto éAmilcar Bernardi, vice-diretor do Colégio Coração de Maria:
– É uma questão de segurança e padronização. Assim, podemos distinguir quem é do Esino Fundamental, Ensino Médio e quem não é aluno. Após a oitava série, os jovens já são maduros para escolher o que vestir. O surpreendente é que muitos ainda optam por usar parte do uniforme durante o ensino médio. Eles gostam da identificação com a escola.
Mas o vice-diretor alerta: galera que monta seu próprio visual para ir à aula precisa tomar certos cuidados.
– Quando consideramos que é chamativa ou inadequada, apenas alertamos e conversamos com o aluno para que se tenha mais cuidado. Mas isso é raro, não acontece muito – comenta.
Para Caroline Maia, 17 anos, o conforto é essencial na hora de ir para a aula. A guria que está no terceiro ano do Colégio Coração de Maria sente saudades do bom e velho uniforme.
– No começo do Ensino Médio, era novidade, tínhamos liberdade para escolher. Hoje, vejo que demorava menos para escolher a roupa quando vestia uniforme. O uso também evita pensamentos do tipo "o que vão achar de mim com essa roupa?" – argumenta.
Uniforme, não. Farda!
No caso dos alunos do Colégio Tiradentes da Brigada Militar de Santa Maria, além do uniforme ser exigência, é preciso muita disciplina para deixá-lo de acordo com as regras da escola. Renan de Oliveira, 15 anos, fala como é seu dia-a-dia com o uniforme do Colégio Tiradentes: a farda.
– A farda precisa estar limpa, passada, e os sapatos devem ser lustrados. Até para cortar o cabelo há normas. Com organização, já me acostumei a deixar a farda pronta no dia anterior. No final de semana me visto normalmente. Acredito que a obrigatoriedade do uniforme não fez eu mudar o jeito que eu gosto de me vestir – conta.
Para as meninas, o cabelo e as unhas também precisam estar de acordo. Vanessa Medeiros da Rosa, 15 anos, vai contra a opinião popular de que o uniforme ajuda a economizar tempo pela manhã.
– Demoro mais para me vestir de manhã por causa de todas as exigências para o uniforme. Acho que, para as meninas, por uma questão de vaidade, usar a farda todos os dias é mais complicado. No início, foi um choque, mas hoje já me acostumei. É um orgulho vestir a farda – comenta a estudante.
E os dois concordam que, mesmo com a obrigatoriedade do uniforme, ainda rolam comentários sobre a maneira de se vestir e de se portar dos colegas.
– Aqui, se ouve falar sobre a aparência da farda, ou das unhas, por exemplo. Se algo não está nos conformes, todos notam – contam.
Barrados da escola
Apesar de as escolas públicas não exigirem o uso do uniforme, oColégio Estadual Coronel Pilar fez história com suas demandas. Em 1994, uma regra que bania certos tipos de roupas foi imposta por lá. A ex-aluna Ana Taís Ribas, 29 anos, conta que os alunos não podiam entrar no colégio se não cumprissem as regras:
– Não era permitida a entrada de alunas com roupas curtas, como miniblusas ou minissaias. Eles não achavam normal garotas mostrarem o seu corpo. Aliás, concordo que o uso dessas roupas não é adequado em colégios, mas isso depende do bom senso de cada um – opina.
O assunto virou polêmica no país. Programas como o Fantástico, da Rede Globo, mostraram a revolta dos alunos que não concordavam com as proibições.
O especialista dá a letrinha
O psicólogo Felipe Schroeder de Oliveira aponta que a não-obrigatoriedade do uniforme no Ensino Médio possibilita o diálogo entre pais e professores sobre assuntos que não são tratados no cotidiano da galera:
– Quando o adolescente ganha liberdade para escolher a roupa que usa, ele tem a chance de aprender limites e maneiras para adequar suas formas de expressão aos ambientes que ele frequenta, mesmo concordando ou não.
O especialista também explica que casos como a confusão causada pela universitária Geisy Arruda na Universidade Bandeirante (Uniban), em São Paulo, são oportunidades para abordar o assunto da sexualidade do jovem.
– Não se trata da sexualidade como algo comum. Durante a adolescência, é normal ser inseguro com sua própria identidade e também com o seu próprio corpo. Quando acontece alguma situação constrangedora devido ao modo de se vestir, os colegas ou amigos muitas vezes, não tratam a situação com naturalidade, como aconteceu em São Paulo. Os jovens precisam de informação e aprender a lidar com a sexualidade e a ansiedade de se expressarem – conclui Felipe.
E ai? Qual a opinião da galera?
"O pessoal no meu colégio tem bom senso, não lembro de ter visto ninguém com roupas inadequadas. Todo mundo usa tênis, jeans e camiseta. Mas, acredito que o uniforme ajuda a lembrar que todos temos os mesmos direitos e deveres dentro da escola, acho isso importante. Muitos colegas não concordam, mas a exigência deveria continuar no Ensino Médio".
Cassia Laire Kozloski, 16 anos, 2º ano do Colégio Centenário
"Escolher roupa todos os dias para o colégio, às vezes, é um estresse. O importante é vir confortável. O uniforme facilitaria. Como temos liberdade, a escolha vai do bom senso. Várias meninas vêm para o colégio com saias curtas, mas ninguém comenta com maldade como fizeram com a Geisy, da Uniban."
Marissani Farias, 17 anos, 3º ano do Colégio Coronel Pilar
"Hoje, posso escolher o que vestir e acho muito melhor ter essa liberdade. Prefiro gastar com uma roupa que eu gosto do que com uniforme. Uso as camisetas do colégio só quando não há outra opção, ou estou na correria".
Lucas Souza, 17 anos, 2º ano do Colégio G10
"Pela falta de tempo, pego a primeira coisa que vejo. Particularmente, gosto do uniforme, porque assim tu conservas tuas roupas e é mais fácil na hora de escolher na correria da manhã. Acho que muitos querem estar na moda e esquecem o que é adequado para o colégio"
Bruno Jobb, 18 anos, 2º ano do Colégio Cilon Rosa
"Acho que o uniforme é uma maneira de diminuir a concorrência de quem veste a roupa mais legal. Nunca precisei usar uniforme para a escola, mas não veria problema, se fosse obrigatório. Principalmente no verão, esquecemos que roupas mais curtas e abertas não são tão legais para ir ao colégio. Uma professora até já chamou minha atenção quando fui de barriga de fora. Isso é bom, ajuda os alunos a lembrar que devem se vestir de acordo com o ambiente."
Andressa Sangoi, 18 anos, 2º ano do Colégio Coração de Maria
"Usei uniforme até a 8ª série e não gostava. Todos ficam iguais. É muito monótono. Oprime a escolha de vestir o que quer".
Rafael Beck, 17 anos, 2º ano do Colégio Santa Maria