quarta-feira, maio 29, 2013

AVALIAR PARA PROMOVER: As Setas do Caminho

Jussara Hoffmann

Rumos da Avaliação neste século

O problema da avaliação da aprendizagem tem sido discutido intensamente neste último século. Nas últimas décadas, adquiriu um enfoque político e social, que intensificou a pesquisa sobre o assunto.
A tendência, dentre os principais estudiosos do assunto, é a de procurar superar a concepção positivista e classificatória das práticas avaliativas escolares (baseada em verdades absolutas, critérios objetivos, medidas padronizadas e estatísticas) em favor de uma ação consciente e reflexiva sobre o valor do objeto avaliado, as situações avaliadas e do exercício do diálogo entre os envolvidos.
Dessa maneira, assume-se conscientemente o papel do avaliador no processo, dentro de um dado contexto, que confere ao educador uma grande responsabilidade por seu compromisso com o objeto avaliado e com sua própria aprendizagem - a de como ocorre o processo avaliativo.
Essa reflexão envolve os próprios princípios da democracia, cidadania e direito à educação, que se contrapõem às concepções avaliativas classificatórias, que se fundamentam na competição, no individualismo, no poder, na arbitrariedade, que acabam enlaçando tanto os professores quanto os alunos em suas relações pessoais verti­cais e horizontais.

Da mesma forma, a avaliação de um curso só terá sentido se for ca­paz de possibilitar a implementação de programas que resultem em melhorias do curso, da escola ou da instituição avaliada.
No entanto, a despeito das inova­ções propostas pela nova LDB (9394/ 96), observa-se na maioria das esco­las brasileiras, de todos os níveis, a di­ficuldade para incorporar e compreen­der a concepção de avaliação media­dora. Em seus regimentos escolares enunciam-se objetivos de avaliação contínua, mas, ao mesmo tempo, es­tabelecem-se normas classificatórias e normativas, o que revela a manutenção das práticas tradicionais e a resis­tência à implementação de regimes não seriados, ciclos, programas de acele­ração, evidenciando o caráter burocrá­tico e seletivo que persiste no país.

A autora resume os princípios bá­sicos – as setas do caminho – a seguir, apontando para onde vamos:

DE
PARA
Avaliação para classificação, seleção, seriação.
Avaliação a serviço da aprendizagem, da formação, da promoção da cidadania.
Atitude reprodutora, alienadora, normativa
Mobilização em direção à busca de sentido e significado da ação.
Intenção prognóstica, somativa, explicativa e de desempenho.
Intenção de acompanhamento permanente de mediação e intervenção pedagógica favorável a aprendizagem.
Visão centrada no professor e em medidas padronizadas de disciplinas fragmentadas.
Visão dialógica, de negociação, referenciada em valores, objetivos e discussão interdisciplinar.
Organização homogeneizada, classificação e competição. 
Respeito às individualidades, confiança na capacidade de todos, na interação e na socialização.

Os regimes seriados estabelecem oficialmente uma série de obstáculos aos alunos, por meio de critérios pré-definidos arbitrariamente como requisitos para a passagem à série seguin­te. Os desempenhos individuais dos alunos são utilizados para se comparar uns com os outros, promovendo os "melhores" e retendo os "piores". As diferenças individuais são reconhecidas, não como riqueza, mas como instrumento de dominação de uns poucos sobre muitos. 
            Os regimes não seriados, ao con­trário, fundamentam-se em concep­ções desenvolvimentistas e democrá­ticas, focalizando o processo de apren­dizagem, e não o produto. O trabalho do aluno, a aprendizagem, é compa­rado com ele próprio, sendo possível observar sua evolução de diversas formas ao longo do processo de ensino-aprendizagem, reconhecer suas pos­sibilidades e respeitá-las. Dessa for­ma, a avaliação contínua adquire o sig­nificado de avaliação mediadora do processo de desenvolvimento e da aprendizagem de cada aluno, de acor­do com suas possibilidades e da pro­moção da qualidade na escola. 
Isso está longe de ser menos exi­gente, rigorosa e mais permissiva. Pelo contrário, essa organização de trabalho escolar exige a realização de uma prática pedagógica que assuma a diversidade humana como riqueza, as facilidades e dificuldades de cada um como parte das características humanas, que devem ser respeitadas e, ao fazê-lo, novas formas de rela­ções educativas se constituem a partir da cooperação e não da competição.
Deste modo, se torna possível aco­lher a todos os alunos, porque não há melhores nem piores, sendo que, num processo de avaliação classificatória, estes últimos, "os piores" estarão pre­destinados ao fracasso e à exclusão.

Provas de recuperação versus estudos paralelos
 A ideia de recuperação vem sendo concebida como retrocesso, retomo. As provas de recuperação se confundem com a   recuperação   das   notas já alcançadas, com repetição de conteúdos.
Estudos paralelos de recuperação são próprios a uma prática de avali­ação mediadora. Neste processo o conhecimento é construído entre des­cobertas e dúvidas, retomadas, obs­táculos e avanços. A progressão da aprendizagem, nos estudos paralelos, está direcionada ao futuro do desen­volvimento do aluno.
Os estudos paralelos precisam acompanhar os percursos individuais de formação dos alunos e considerar os princípios da pedagogia diferenci­ada, para a qual nos chama a aten­ção Perrenoud (2000), que alerta:
“o que caracteriza a individualização dos percursos não é a solidão no trabalho, mas o caráter único da trajetória de cada aluno no conjun­to de sua escolaridade”.
Nesse sentido, o reforço e a recu­peração (nas suas modalidades con­tínua, paralela ou final) são consi­derados parte integrante do proces­so de ensino e de aprendizagem para atendimento à diversidade das características, das necessidades e dos ritmos dos alunos.
Alertamos para o fato de que Hoffman defende que o termo para­lelo pressupõe estudos desenvolvi­dos pelo professor em sua classe e no decorrer natural do processo. Cada professor estabelece uma relação diferenciada de saber com seus alunos. É compromisso seu orientá-los na resolução de dúvidas, no aprofundamento das noções, e a melhor forma de fazê-lo é no dia-a-dia da sala de aula, contando com a cooperação de toda a turma.

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